Ha esperança: dois livros incríveis para ler nas férias

Vamos aproveitar as férias para ler e começar o ano sabendo que é possível proteger o planeta e, ao mesmo tempo, agir para tornar a vida mais justa e igualitária para as pessoas que vivem nele.

Fim de ano, praia, piscina, tempo livre: minha sugestão é para você relaxar, ler com calma e se informar com mais profundidade sobre um dos principais assuntos dos dias atuais, a crise climática. E assim, selecionei dois livros perfeitos para entender a moda, o planeta e como devemos nos comportar diante dos valores e necessidade dos nossos tempos.

O primeiro livro é “Como mudar tudo: um guia para jovens que querem proteger o planeta e uns aos outros”, de Naomi Klein, que de forma leve mostra as transformações que afetam nosso planeta com ideias, inspirações e ferramentas para agirmos.

No livro, o primeiro da autora premiadíssima escrito para jovens, ela diz que não estamos fadados a seguir o caminho da crueldade climática e, que por mais que nossas escolhas pessoais façam a diferença, nós não somos capazes sozinhos de realizar as mudanças dramáticas que precisamos. Governos, empresas e indústrias precisam fazer escolhas muito diferentes das que fazem hoje. Mas que “ao nos manifestarmos juntos para dizer não ao aquecimento global, também dizemos sim a um mundo mais justo e igualitário.”

Muito interessante o resgate histórico de como a sustentabilidade virou pauta, de como e onde a palavra foi usada pela primeira vez, do primeiro livro escrito sobre o tema ainda na década de 60, Silent Spring de Rachel Carson. Todos os termos usados hoje como energia limpa, dióxido de carbono, agropecuária, efeito estufa, são explicados de maneira muito didática, fácil e com exemplos. Você vai sair dessa leitura entendendo o mundo e sabendo o que podemos fazer de verdade.

Só a tecnologia salva

Minha segunda dica é um livro fundamental para quem gosta de moda. “Fashionopolis: o preço do fast fashion e o futuro das roupas”, da jornalista Dana Thomas, aponta os caminhos para uma indústria da moda mais sustentável, justa e moderna.

A cada ano, os cidadãos da Terra consomem 80 bilhões de itens vestíveis. Nas últimas três décadas, a indústria da moda não só disparou no volume de peças, como mudou completamente a geografia da produção. Nos anos 1980, 70% das roupas consumidas nos Estados Unidos eram produzidas lá mesmo, pela indústria local. Em 2012, esse montante caiu para 2,5% – todas as outras 97,5% de roupas vem do exterior, de países como China e Bangladesh.

Sem tradução para o português, dá para ler Fashionopolis em inglês ou espanhol pelo Kindle ou em papel. Todos os caminhos futuros apontados pelo livro levam para uma única direção: tomar decisões com base na responsabilidade e na ética social e ambiental.

Qual a melhor matéria prima, o melhor modo e local de produção e de comercialização que mantenha a biodiversidade, as águas limpas, o ar puro? Achar soluções para a indústria que mantenha o planeta funcionando em sua plenitude é hoje tema mais fashion do qualquer modelo de roupa. Sustentabilidade está para 2020s o que a minissaia foi pra 1960. Quem não entender por vontade própria, o fará por força do mercado.

O livro dá exemplos de marcas e empresas que já trabalham com práticas sustentáveis – sem abrir mão do sucesso econômico. Stella McCartney é a mais importante delas. Protagonista do momento anti-fur ela também não usa couro de animal e, desde 2010, não trabalha PVC. O seu nylon é reciclado e reciclável, da italiana Econyl. Todos os outros tecidos obviamente são certificados e orgânicos.

Empresas como Stella McCartney sabem que o mais correto é em ordem decrescente de importância 1) evitar o impacto 2) minimizar o impacto 3) restaurar o impacto 4) compensar o impacto.

“Fashionopolis” é dividido em três partes. A primeira é histórica e relembra que o tear mecânico foi a máquina que deu o start na Revolução Industrial no século XVIII. As duas outras partes do livro mostram soluções e iniciativas que já estão acontecendo e que reconectam a indústria da moda com valores como transparência e responsabilidade na produção, distribuição e comercialização.

Novos materiais vêm de empresas de biotecnologia. Na confecção, robôs e automação estão provando que é possível novamente produzir localmente e com rapidez, flexibilidade e preço. Na Inglaterra, a English Fine Cottons é a primeira grande tecelagem de algodão aberta no país nos últimos 30 anos. Inteiramente automatizada, com o ar interno puríssimo, a fábrica trabalha com algodão Supima e Sea Island, este último favorito de James Bond.

Hoje, o Banco Mundial acredita que a moda é responsável por 20% de toda poluição da água. “Condições insalubres de trabalho já existiam desde quando Manchester, na Inglaterra, berço da Revolução Industrial, era a cidade mais poluída do mundo e empregava crianças em jornadas de 24h de trabalho”, conta a autora. Manchester era conhecida como Cottonopolis, ainda hoje a fibra mais popular, o algodão é central não apenas para a história da moda. Para Karl Marx, co-autor do Manifesto Comunista “sem escravos não haveria algodão e sem algodão não haveria indústria moderna”.

O livro fica mais otimista na segunda e terceira parte, quando a autora conta das novas iniciativas que estão impulsionando a moda em direção ao futuro. Dana Thomas viajou pelo mundo todo para investigar os casos para produzir o livro. O jeans, peça de roupa mais popular da moda, recebe atenção especial. A cada ano, são produzidos 5 bilhões de novos jeans. Grande parte deles saem da cidade que é considerada a capital do jeans no mundo. Xintang, na China, produz em 3 mil fábricas, 800 mil calças jeans por dia. Em Xintang as ruas são azuis, a taxa de infertilidade é alta como também são as infecções pulmonares e as doenças de pele.

No outro extremo da indústria, está Kojima, cidade há quatro horas de Tókio, e que faz o melhor jeans do mundo, de maneira artesanal, usando índigo natural – o índigo sintético tem dez componentes químicos, entre eles petróleo e cianeto. A marca estrela de Kojima é Momotaro Jeans mas o estilo de trabalhar da cidade já se espalhou para o mundo.

Tudo é uma questão de oportunidade e escolha. Faça a sua, leia, se informe, abra a mente e o coração e vamos em frente. Feliz Natal e um 2023 de muitas possibilidades!

ONDE COMPRAR

“Como mudar tudo: um guia para jovens que querem proteger o planeta e uns aos outros”, de Naomi Klein
https://amzn.to/3v2PuNu

“Fashionopolis: The Price of Fast Fashion and the Future of Clothes”, de Dana Thomas
https://amzn.to/3jecHtk

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *