Os cogumelos podem salvar a moda

Por Ale Farah, especial para ADN reset

Ouro vale pela vida toda. Amarelo, branco e rosé, ele é o clássico da joalheria e nas crises. Está no dedo dos noivos em todo o mundo e em tempos de instabilidade financeira é o ativo financeiro mais seguro para investir. Mas até quando?

O que levou a tradicionalíssima Hermès a eleger o couro da “raiz” de cogumelo, o micélio, como seu novo supermaterial?

A grife francesa trabalha com Reishi, couro desenvolvido pela californiana Mycoworks, em uma nova versão da bolsa Victoria que deve chegar às lojas até o fim deste ano. Já Stella McCartney usa o Mylo, o couro de cogumelo de outra startup californiana, a Bolt Threads. E a Balenciaga, no desfile do inverno 2022, mostrou um casaco de couro até o chão feito de Ephea, material desenvolvido com a italiana Mogu.

A adesão de tradicionais marcas do luxo a um couro que substitui o de origem animal estabelece a entrada, vagarosa mas certeira, da moda na era da biofabricação.

Biofabricação
Se tudo der certo, a humanidade fará a transição entre o modo de produção industrial clássico e extrativista para a biofabricação onde, crescendo bactérias e fungos, como o micélio, passaremos a construir junto com a natureza e não contra a natureza.

Por que o micélio é um supermaterial

  • O micélio é um polímero vivo. Ao contrário do couro de plantas, o de micélio não precisa da adição de um “plástico” sintético, de origem vegetal ou fóssil, para se transformar em têxtil;
  • O micélio é rápido. Ele cresce em até duas semanas, enquanto as plantas chegam a demorar meses e meses;
  • O micélio é material renovável na sua essência. Os fungos são os recicladores originais da natureza, são o sistema digestivo da floresta, “comem” o que não serve mais e transformam em algo novo;
  • O micélio é compostável;
  • O micélio é extremamente resistente, durável, à prova d’água e versátil, podendo assumir várias texturas, cores e gramaturas;
  • O couro de micélio pode crescer próximo da demanda, gastando menos energia, solo e água e dando mais criatividade aos estilistas. Antes de ser modelado pelos artesãos Hermès, o couro Reishi, da MycoWorks, foi finalizado e o curtido nas próprias oficinas Hermès;
  • O micélio estabelece uma “conexão emocional”, explicada pelo toque de couro e pelo cheiro, não de sintético, e sim de terra.

O micélio é abundante. Com mais de 6 milhões de espécies na Terra, apenas 8% delas já descritas pelos homens, dá pra fazer de tudo com os fungos. Cada uma das variedades de cogumelos, e de suas “raízes” tem uma aplicação. Itens como embalagens, tijolos, painéis de revestimento, móveis, objetos de decoração, sapatos, roupas, carne, além de vinil e couro, já estão sendo produzidos.

“A diferença entre cogumelos e plantas é que as plantas crescem para chamar nossa atenção enquanto os cogumelos não nos dão a mínima”, diz Michael Pollan, no Fungos Fantásticos, no Netflix. Ainda está complicado comprar um acessório ou roupa de micélio mas já dá pra assistir ao intrigante documentário e se apaixonar pelo delicioso reino fungi.

Couro de micélio, quem produz:
@mycoworks
@mylo_unleather
@mycotechnology
@mogumycelium
@faberfutures
@foragerofficial
@mycelproject

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